A Frente Parlamentar Evangélica da Câmara dos Deputados projeta um
crescimento de 30% nas eleições do ano que vem. Espera passar dos atuais
73 parlamentares para até 95 - ocupando algo em torno de 18% das
cadeiras disponíveis. Especialistas ouvidos pelo Estado não acham
difícil que isso ocorra, pois o grupo nunca teve tanta força. E, em ano
de sucessão presidencial, o poder de fogo desse setor da sociedade deve
ficar ainda maior. Nas eleições de 2010, por exemplo, temas caros aos
evangélicos, como o aborto, pautaram a disputa direta entre Dilma
Rousseff e Jose Serra (PSDB).
"A presença dos evangélicos nunca foi tão grande. O debate (pautado
pelo grupo) cresceu em eleições e no Legislativo", afirma a cientista
política e professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar),
Maria do Socorro Sousa Braga.
Para o único parlamentar assumidamente homossexual do Brasil, o
deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), os partidos ligados aos religiosos já
estão se esforçando para pautar as eleições com a temática contra o
casamento gay, o aborto e a criminalização das drogas. "Querem, de
maneira geral, rebaixar o debate para questões morais e
comportamentais", afirma.
Os evangélicos representam atualmente 22% de toda a população
brasileira, segundo o IBGE. Seu voto é marcado pela fidelidade aos seus
líderes religiosos. "Há um confronto (dos evangélicos) em relação às
questões morais e novos posicionamentos (de grupos LGBT). Nesse debate
os evangélicos são reforçados por integrantes de outras religiões
também, vários representantes católicos passam a apoiar as teses desses
parlamentares", diz Maria do Socorro.
Estratégia
A professora da UFSCar lembra que, no caso dos candidatos
à Presidência, sempre há uma tentativa de aproximação estratégica com
os grupos religiosos. Ela ressalta, no entanto, que tal aproximação tem
de ser feita de forma moderada a fim de não causar rejeição de outros
eleitores.
Além de questões como o aborto e o casamento gay, os representantes
dos evangélicos no Congresso têm outras áreas de interesse, como a de
concessões de rádio e TV - por causa de programas e canais, comerciais e
comunitários ligados a igrejas. Há ainda projetos específicos caros ao
setor. Um deles é o que dá poder às igrejas para contestar leis junto ao
Supremo Tribunal Federal. O texto já passou pela Comissão de
Constituição e Justiça e aguarda mais uma comissão antes de ir a
plenário. A aprovação desse projeto será prioridade do grupo em 2014.
O presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado João Campos
(PSDB-GO), afirma que a atuação cada vez maior dos evangélicos no campo
da política vai ajudar a impulsionar a expansão da bancada.
Posições. Mesmo evitando falar em um candidato à Presidência com
apoio da frente evangélica, Campos afirma que o grupo não deve abrir mão
de seus posicionamentos: "Sou do PSDB e meu candidato é o Aécio, mas
não vou protegê-lo. Em todos os temas relacionados à defesa da vida, da
família natural, à liberdade religiosa, que são valores da sociedade, os
candidatos terão que se posicionar".
O pastor Marcos Feliciano (PSC-SP), que comandou este ano a Comissão
de Direitos Humanos na Câmara, se coloca como um dos responsáveis pelo
eventual crescimento da bancada religiosa no ano que vem. "Minha
participação na comissão despertou católicos, evangélicos e espíritas",
diz Feliciano, segundo quem já há uma forte procura de outros políticos
para que ele apareça em parcerias em santinhos no ano que vem.
Feliciano protagonizou, na presidência da Comissão de Direitos
Humanos, uma série de polêmicas, foi alvo de protestos constantes e
conseguiu aprovar no colegiado até projetos tidos como homofóbicos.
O cientista político e professor da Universidade Federal de
Pernambuco Gustavo da Costa Santos lembra que, apesar da alta exposição
de Feliciano, sua atuação na Comissão de Direitos Humanos também gerou
uma repercussão negativa em parte do eleitorado. "Toda sua exposição
explicitou o quão caricatas são essas figuras como ele - que assumiu a
comissão para promover a pauta da sua visão de mundo da religião e não
dos direitos humanos", afirma.
Assessoria de Comunicação com Agencia Estadão
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